sexta-feira, 16 de agosto de 2013

A página do diário do pai adotivo.


A página do diário do  pai adotivo.

Eu me lembro da primeira vez que me chamou de pai, era próximo da sua data de aniversário, e ela certo dia no carro numa das diversas perguntas que fazia pra ela me relatou que nunca teve uma festa de aniversário, de certa forma mesmo que eu fizesse uma festa pra ela saberia que não conseguiria almejar o tão inocente desejo perdido no decorrer de seus 15 anos de idade. Eu dormi me sentindo ausente, pois minhas duas filhas sempre tiveram festas maravilhosas com todos os apetrechos de princesas festas organizadas todas musicas que sonhavam e bailes que adentravam as noites, no dia seguinte elas simplesmente abriam os presentes e ficavam comparando valores deles de maneira material e não sentimental.
Dias depois adentrei a confecção lá estava ela pequena em cima de uma maquina de costura, tentando apreender a falar com os outros funcionários que só falavam o espanhol.
Perguntei á ela qual o brinquedo que na sua infância você sempre teve vontade de ter e não pode?
A resposta foi tão rápida e eficaz que percebi que ela ainda tinha os sonhos perdidos misturados à adolescência.
Ela respondeu:
Uma boneca de plástico vestida de noiva, meu genitor tinha condições mais me negou diversas vezes dizendo que era supérfluo e que eu deveria me ocupar dos afazeres do lar.
Levei ela ate a loja de brinquedos, e pedi para ela escolher uma boneca mesmo tendo 15 anos de idade.
O que me surpreendeu foi que ela não escolheu a boneca vestida de noiva mais cara nem a mais bonita, ela simplesmente pegou uma boneca de plástico que não tinha movimentos, não necessitava de pilhas nem tão pouco era a mais sofisticada.
Ela simplesmente me disse:
Nossa era quase igual a essa mesmo, eu jamais vou me esquecer deste gesto pai.
As lagrimas corriam em seus olhos verdes, aquele cabelo esvoaçado misturado ao sorriso que irradiava todo ambiente.
Dai comecei a comparar os valores, as minhas filhas iam de chofer a escola nunca haviam trabalhado na vida, estudavam nos melhores colégios falavam 3 idiomas, sequer sabiam lavar um copo, e raramente eu recebia um abraço.
Hoje sei que por mais que eu pudesse dar tudo de material á ela nada iria suprir, porque nunca conheceram as dificuldades desta menina, nunca sentiram carência, raramente recebiam um não.
Os anos se passaram, e ate hoje quando eu ligo para pequena de olhos verdes recebo uma benção papai.
Fazem exatamente 4 anos que minhas filhas de sangue, não me dão um único telefonema.
Dei-me conta que aos 65 anos de idade não vivenciei o real valor de uma família que tentei constituir, e cheguei à conclusão que somos simples e meramente um veiculo onde só carregamos aquilo que os outros podem perceber.
Faço questão de receber essa benção pelo menos 3 vezes por semana, porque tenho certeza que ela me adotou muito mais que eu á ela. Eu jamais iria imaginar que uma boneca vestida de noiva faria tanta diferença na minha vida e na dela.


Chang








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