A página
do diário do pai adotivo.
Eu me lembro
da primeira vez que me chamou de pai, era próximo da sua data de aniversário, e
ela certo dia no carro numa das diversas perguntas que fazia pra ela me relatou
que nunca teve uma festa de aniversário, de certa forma mesmo que eu fizesse
uma festa pra ela saberia que não conseguiria almejar o tão inocente desejo
perdido no decorrer de seus 15 anos de idade. Eu dormi me sentindo ausente,
pois minhas duas filhas sempre tiveram festas maravilhosas com todos os apetrechos
de princesas festas organizadas todas musicas que sonhavam e bailes que
adentravam as noites, no dia seguinte elas simplesmente abriam os presentes e
ficavam comparando valores deles de maneira material e não sentimental.
Dias depois
adentrei a confecção lá estava ela pequena em cima de uma maquina de costura,
tentando apreender a falar com os outros funcionários que só falavam o
espanhol.
Perguntei á
ela qual o brinquedo que na sua infância você sempre teve vontade de ter e não
pode?
A resposta
foi tão rápida e eficaz que percebi que ela ainda tinha os sonhos perdidos
misturados à adolescência.
Ela
respondeu:
Uma boneca
de plástico vestida de noiva, meu genitor tinha condições mais me negou
diversas vezes dizendo que era supérfluo e que eu deveria me ocupar dos
afazeres do lar.
Levei ela
ate a loja de brinquedos, e pedi para ela escolher uma boneca mesmo tendo 15
anos de idade.
O que me
surpreendeu foi que ela não escolheu a boneca vestida de noiva mais cara nem a
mais bonita, ela simplesmente pegou uma boneca de plástico que não tinha
movimentos, não necessitava de pilhas nem tão pouco era a mais sofisticada.
Ela
simplesmente me disse:
Nossa era
quase igual a essa mesmo, eu jamais vou me esquecer deste gesto pai.
As lagrimas
corriam em seus olhos verdes, aquele cabelo esvoaçado misturado ao sorriso que
irradiava todo ambiente.
Dai comecei
a comparar os valores, as minhas filhas iam de chofer a escola nunca haviam
trabalhado na vida, estudavam nos melhores colégios falavam 3 idiomas, sequer
sabiam lavar um copo, e raramente eu recebia um abraço.
Hoje sei que
por mais que eu pudesse dar tudo de material á ela nada iria suprir, porque
nunca conheceram as dificuldades desta menina, nunca sentiram carência,
raramente recebiam um não.
Os anos se
passaram, e ate hoje quando eu ligo para pequena de olhos verdes recebo uma
benção papai.
Fazem
exatamente 4 anos que minhas filhas de sangue, não me dão um único telefonema.
Dei-me conta
que aos 65 anos de idade não vivenciei o real valor de uma família que tentei
constituir, e cheguei à conclusão que somos simples e meramente um veiculo onde
só carregamos aquilo que os outros podem perceber.
Faço questão
de receber essa benção pelo menos 3 vezes por semana, porque tenho certeza que
ela me adotou muito mais que eu á ela. Eu jamais iria imaginar que uma boneca
vestida de noiva faria tanta diferença na minha vida e na dela.
Chang
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